“Eu desisti de você!” (#5)

Eu estou quebrado. Na pessoa física e na pessoa jurídica. E sem romantizar, pois não, não é legal. Nem um pouco.

Muita coisa aconteceu desde a última vez que escrevi aqui. Eu pedi demissão de meu trabalho na Uber como Coordenador de Talentos para a América Latina, ganhei um reality show no Multishow (O Plano é Esse), comecei a estudar numa faculdade focada em empreendedorismo. E tomei muita, mas muita decisão errada. Não vou entrar no detalhe de cada coisa (talvez isso fique para um recap de fim de ano), mas deixa eu te contextualizar , te mostrar como cheguei até aqui.

Eu ganhei R$ 125k como premiação do reality. Usei parte para fazer o novo site da firma, parte para comprar um monte de insumos e fazer estoque, a grande maioria para pagar a dívida que acumulamos para construir nossa loja e ficou um pouco pra capital de giro. Durou dois meses. Eu parei de me preocupar com algo essencial: vendas.

Ao não vender, não entrava a quantidade de dinheiro que precisávamos para manter nossos compromissos fixos. Eu comecei a passar meu cartão de crédito na máquina da loja para pagar as contas e aí começou a bola de neve. Ela atingiu seu ápice em maio. Para estancar o sangramento, fiz um empréstimo e coloquei as contas em dia. E finalmente entendi (ou melhor, aceitei, pois eu já sabia) que precisava estudar, precisava me qualificar para parar de tomar decisões tão burras. Ou pelo menos errar em outras coisas. Passei no processo seletivo da Link School of Business.

Desde o primeiro dia de aula eu fiquei apaixonado. O ambiente era contagiante! Pessoas com sonhos semelhantes, alinhadas no próposito de ter seus negócios, transformando o país. Eu tinha encontrado minha tribo! Mas me empolguei tanto que deixei, mais uma vez, de focar em vendas. como eu tenho aprendido na facul, números não mentem. Os meus no DRE de todos os meses desse ano também não. Olha só:

Os meses de junho e julho foram o pós-empréstimo, com contas no verde e foco em vender. O resultado? Lucro líquido de 16 e 21%, respectivamente. Mas aí veio agosto, início das aulas. Eu fui com tanta paixão, com tanta sede de conhecimento, de aprender, de absorver o máximo que eu podia, que deixei minha empresa ali, meio de lado. Mas cara… é ela que provê o sustento de casa. Cometi um erro crasso.

Pra resumir a ópera, acumulamos prejuízos. Não pelo produto ser ruim (ele é maravilhoso!), mas por eu não ter sido um bom gestor. Eu errei. “Errei feio, errei rude”. E cheguei nesse ponto: 5 de dezembro de 2022. R$30.000,00 de dívidas na pessoa física e cerca de R$80.000,00 na pessoa jurídica. Eu tô quebrado.

Numa conversa com uma pessoa que tenho o mais profundo respeito e amor, ouvi o que doeu profundamente e que serviu também de título para esse post. Ao conversar, desabafar e até cobrar alguma ajuda dessa pessoa, eu disse que apesar de tudo, apesar dessa situação, que eu não ia desistir. A pessoa então respondeu: “eu sei que você não vai, você nunca desiste dela (a empresa). Mas eu desisti de vocês!”. Foi como uma faca penetrando meu peito e, não bastasse a dor, ela girou e foi removida abruptamente. Doeu.

Doeu principalmente pois essa situação é culpa minha, é minha responsabilidade. Como disse sabiamente um professor, “a realidade caga pros [meus] sentimentos”. Doeu por eu ter visto que sim, eu falhei. Eu errei. E eu quebrei. Mas ao quebrar, tô levando comigo minha esposa e filha junto, fazendo-as sofrer. Mas eu não vou encerrar o CNPJ.

Eu aceito todos os rótulos, xingamentos e testemunhos do quão ranzinza fui, do quão chato era e de como tinha um senso de humor duvidoso. A única coisa que não aceito escrita em minha lápide é: “ele desistiu”. A pessoa estava certa: eu não desisto. Estou aqui, me expondo e já sabendo que vou levar umas pedradas. Mas se em algum dia, daqui algumas décadas, eu conseguir sair dessa situação que estou hoje, quero voltar aqui e agradecer ao Qaiq do passado por não ter desistido do Qaiq do futuro. Mas sem romantizar, tá? Pois tá difícil pra caraca.

Tá difícil, mas bora continuar que esse ano o hexa vem. #pru 🕊️