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Layoffs: necessários? (#12)

Antes de mais nada, vamos alinhar algo: é demissão em massa, ok? Bora desromantizar. É incômodo chamar pelo nome correto, eu sei, mas a realidade é um tapa na cara, mesmo.

O mar não está pra peixes. Segundo dados apurados pelo layoffs.fyi, em 2022 1044 companhias de tecnologia demitiram cerca de 159.786 colaboradores, numa média de 153/empresa. Já em 2023 os números assustam um pouco mais: 334 companhias, também de tecnologia, demitiram cerca de 101.617 colaboradores, numa assustadora média de 304/empresa. Praticamente o dobro e estamos ainda em fevereiro. Quero entrar um pouco mais no detalhe desses números.

Demissões em massa: dados do primeiro trimestre de 2020 ao primeiro trimestre de 2023.

Ao analisarmos as demissões desde o primeiro trimestre de 2020, conseguimos chegar a uma conclusão óbvia: início da pandemia, medo e incertezas, pico de demissões. 2021, ano da tecnologia e digitalização, pouquíssimas demissões (e muitas contratações). 2022: a ficha caiu que as tendências eram isso, apenas tendências, e não novos padrões. Olhando um pouquinho mais de perto nos últimos 13 meses, algo me chama a atenção:

Demissões de janeiro de 2022 a fevereiro de 2023.

Não foi uma surpresa. O mercado sinalizava uma desacelaração com o retorno à normalidade e ao consumo offline. Fico pensando as diversas ações que poderiam ter sido tomadas. E até serei engenheiro de obra pronta mais adiante. Antes, porém, queria citar dois exemploes recentes: o das empresas Hubspot e Zoom.

Hubspot

Comunicando um corte de 7% de sua força de trabalho, o que representa cerca de 500 funcionários, o Hubspot concederá os seguintes benefícios aos impactados:

  • 5 meses de indenização.
  • 1 semana adicional de indenização para cada ano trabalhado (ex: se 4 anos trabalhados = adicional de 4 semanas de indenização), com limite a um total de 7 meses indenizados.
  • Assistência médica pelo período indenizado.
  • Dispositivos: os funcionários impactados podem manter seus dispositivos (computadores, monitores, etc).

Zoom

Sabe aquele software que você utilizou tanto durante a pandemia, indo desde a reunião do trabalho a encontros com amigos? Pois é, nem eles passaram ilesos. Anunciando um corte de 15% de sua força de trabalho, seu CEO, Eric Yuan, anunciou algo não tão comum entre grandes executivos: assumindo a responsabilidade pelos erros de contratações desenfreadas, Yuan comunicou um corte de 98% em seu próprio salário.

Esses dois exemplos tem me feito refletir nos últimos dias, talvez pelo fato de eu ter sido impactado por uma demissão em massa em maio de 2020. Mas não apenas por isso. Será que há uma forma menos dramática de resolver desafios financeiros do que a aparente primeira opção óbvia para as empresas?

Numa conta de guardanapo, não é difícil chegar à conclusão que, na média, o Hubspot deva gastar cerca de 6 meses de salários com suas indenizações. Não é difícil também afirmar, dados os relatórios públicos da companhia, que os executivos C-Level da Zoom tiveram ganhos milionários nos últimos anos. “Ok, Qaiq, aonde você quer chegar?”

Se uma empresa com um aparente desafio financeiro/operacional está disposta a manter seus custos por 6 meses, por qual razão não o faz mantendo os funcionários, incluindo-os no problema e na possível solução? Não sei, não me parece absurdo um all hands mais ou menos assim:

Estamos enfrentando severos desafios de mercado, o que pode nos colocar numa posição financeira perigosa para a saúde da companhia. Erramos. Erramos ao projetar, e talvez até querer acreditar, que as tendências de crescimento durante a pandemia seriam o novo padrão. Não temos condição de manter nosso quadro de colaboradores como está nos próximos meses e anos da mesma forma, dados os resultados que temos tido nos últimos trimestres.

Nós não conseguiremos resolver essa situação sozinhos. Durante a pandemia vocês demonstraram uma capacidade enorme de resolução de problemas. Nos orgulhamos muito de vocês e precisamos disso, dessa capacidade, mais do que nunca. Ao invés de cortar nossa força de trabalho em X%, o que seria necessário a fim de evitar Y problemas, gostaríamos de construir a várias mãos o que precisamos atingir para não apenas manter, mas quem sabe retomar nosso ritmo de crescimento.

É possível que eu esteja sendo muito inocente, mas essa ideia não me parece absurda. Se estou disposto a cortar meu próprio salário ou manter a folha de pagamentos de minha companhia inalterada, mas sem os funcionários, por X meses, por qual motivo não seria razoável engajá-los na solução do problema?

Eu meu trabalho missionário entre 2015 e 2017, experimentei o vigor de pessoas engajadas em uma causa e as maravilhas que suas mãos podem construir. Acho que algumas companhias poderiam, e até precisam, desfrutar da mesma desafiadora porém recompensadora experiência.

Por Qaiq Alves

Pai, marido, empreendedor e curioso. Nessa ordem. Sou apaixonado por comunicação, pessoas e o difícil, porém valioso processo de tornarmos melhores versões de nós mesmos. Sem romantizar, compartilho minha jornada em busca de encontrar minha própria melhor versão.

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