Categorias
Desenvolvimento Reflexões

A azáfama do equilíbrio (#13)

Eu ainda estou aqui. Por muito tempo, tentei me encontrar nas opiniões dos outros a meu próprio respeito. A única coisa que eu consegui foi me perder em sãs desilusões ideais de mim.

A gente vive num mundo brutal. O papel de parede do meu computador sempre me lembra disso: “a realidade caga pros seus sentimentos”. Talvez eu devesse trocá-lo, pois isso cria distorções, algumas da quais coloquei essa frase tentando evitar.

No desespero de ser “eficiente”, tentei nos últimos anos balancear minha agenda entre trabalho, estudo e família. Seria lindo, não fosse apenas uma daquelas balelas que a gente professa fazer para os outros, querendo convencer a nós mesmos de que temos tido sucesso no controle sobre algo. Não temos. Nessa tentativa de demonstrar e até mesmo me sentir completo, senti-me vazio.

Como já compartilhei aqui, aqui e aqui, nos últimos 2 ou 3 anos acabei deixando de fazer algumas coisas e estou no processo de retomada desse cuidado comigo mesmo. Hoje, gostaria de falar um pouco de como isso aconteceu.

Eu desde muito novo fui infectado com o bichinho da meritocracia. Nos últimos tempos, porém, o efeito inebriante passou. Mas calma: antes de ser mais um a me chamar de comunista, tente entender o que quero dizer.

Se alguma vez te disseram que ter um filho te faz enxergar o mundo de outra forma, bem, estavam certos.

Acredito (e tenho colhido os frutos) no esforço, na conquista do mérito. O que não acredito é na meritocracia do LinkedIn e da Faria Lima. Aquela tal que nos coloca em pé de igualdade com qualquer um e grita a plenos pulmões “que vença o melhor!”, mesmo que nessa maratona de 42km alguém esteja começando no km 35 e você atado em cordas marítimas. Eu demorei a enxergar isso, entender e até aceitar meu próprio ritmo, meu próprio tempo. Principalmente, demorei a perceber que essa corrida louca estava me fazendo mal.

Eu botei tanta, mas tanta energia em crescer profissional e financeiramente, tendo que, em muitas ocasiões, fazer um esforço algumas vezes maior que meus pares, que perdi totalmente a mão nas minhas questões pessoais: minha família e eu mesmo. Profissionalmente falando, posso lhe passar o contato de algumas dezenas pessoas que atestarão minha capacidade de execução fora da curva. Mas no espectro pessoal, não sei eu citaria minha esposa ou mãe para passar referências minhas.

Reconheço isso com, sim, um pouco de vergonha. Mas também sim, desprovido de orgulho. Afinal, como escrevi ali no canto superior esquerdo do site, esse blog registra meu processo pessoal e tentativa de descobrir minha melhor versão.

Estou tentando rebalancear minha vida e te recomendo fazer o mesmo, mas não se engane: não existe equilíbrio. Simplesmente não existe! Nós vivemos num mundo de extremos. Ou fazemos tudo, ou não fazemos nada. Isso não está certo.

Tenho certeza que você já ouviu a parábola dos pratos girando. Existem momentos em que temos de concentrar nossos esforços e energias um pouco mais em um ou outro, acompanhar com os olhos algum e até mesmo deixar outros caírem. Será que estamos deixando cair os que realmente não tem valor e estamos cuidando daqueles que nos significam muito ou tudo, sem o(s) qual(is) nenhum outro faz sentido?

Pra mim, ficou claro que nesse ano de 2023 eu precisava dedicar um esforço significativo em três áreas: meus relacionamentos familiares e minhas saúdes física e espiritual. Isso me fez, dentre outras coisas, dar alguns passos para trás no negócio. Não me fez desistir dele, mas me fez não girar esse prato com tanta intensidade. Se quiser me julgar por isso, vá em frente.

Mesmo quando me descuido
Me desloco
Me deslumbro
Perco o foco
Perco o chão
Eu perco o ar
Me reconheço em teu olhar
Que é o fio pra me guiar
De volta
De volta

“Me Espera”. Composição: Lucas Lima / Sandy Leah / Tiago Iorc.

O Tiago Iorc, que junto com a Sandy escreveu e interpreta a música “Me espera”, conta isso. Me reconheci no meu próprio olhar, que tem me guiado nesse processo de reconhecer que preciso, e posso, ser melhor… que eu mesmo. E é o que importa.

Eu não consigo manter todos os pratos girando na mesma velocidade ao e ao mesmo tempo. Não que eu não seja bom o suficiente, é só que isso não existe, é impossível. Tenho me permitido não me cobrar isso, essa perfeição em equilibrar todas as coisas.

Você já se perguntou se não deveria fazer o mesmo?

Por Qaiq Alves

Pai, marido, empreendedor e curioso. Nessa ordem. Sou apaixonado por comunicação, pessoas e o difícil, porém valioso processo de tornarmos melhores versões de nós mesmos. Sem romantizar, compartilho minha jornada em busca de encontrar minha própria melhor versão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *