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Reflexões

Preciso de religião? (#9)

Eu sou uma pessoa religiosa, sempre fui. De fato, não me lembro de um só momento em minha vida em que eu não seguia os dogmas ensinados por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Me lembro de fraquejar em vários momentos, mas nunca os abandonei.

Desde sempre, eu quis ser um missionário. Era algo claro, cristalino em minha mente. Me preparei por anos e entre 2015 e 2017, servi como um missionário de tempo integral no estado de São Paulo. Como costumamos dizer, foram uns dos “melhores dois anos” da minha vida.

O membros da região de Taipas e Jaraguá, zona norte de São Paulo, se reuniram para minha despedida de sua região. Sim, eu me divertia muito 🙂

Neste trabalho missionário eu aprendi sobre disciplina, retidão, honestidade, integridade, e o que um desejo real é capaz de promover em nós. Foi lá também que aprendi o nosso lema, o LîVE – Little Victories Everyday, onde o “I”, que representa “eu”, em inglês, está minúsculo e apontando para cima, nos lembrando diariamente de sermos humildes e buscar a ajuda de Deus. Eu atingi um nível extremo de desempenho emocional, físico e espiritual. Mas quando voltei para casa, isso passou.

Fiz um intercâmbio (ok, está mais para uma completa loucura em outro país – talvez conte em algum momento), aprendi inglês, entrei numa multinacional, me casei, construí um negócio que, até o último ano, faturou quase 1 milhão de reais… Isso é sucesso, isso sim! Certo? Talvez, mas não pra mim.

No ímpeto do extremo desempenho profissional e financeiro, deixei de cuidar do meu lado espiritual. Coloquei para escanteio o que me levara até onde cheguei: minha sólida sociedade com o Senhor. Confiei demais e apenas em mim mesmo em vários momentos. E olha, não falo isso com alegria. Não é que eu tenha deixado de frequentar a Igreja e parado completamente de guardar meus convênios. Não, não foi isso. Mas o conceito fundamental do LîVE está no poder das pequenas coisas feitas todos os dias, de forma consistente. E eu deixei de fazê-las.

Eu relatei em dezembro sobre nossa difícil situação no negócio que, apesar de faturarmos uma razoável quantia, não fiz uma boa gestão. Hoje, olhando em retrospecto, consigo conectar muitos pontos e ver os vários pequenos desvios de percurso que fizeram com que chegássemos onde estamos.

Na religião que vivo existe algo chamado Bênção Patriarcal. As bênçãos patriarcais são dadas aos membros da Igreja por patriarcas ordenados. Ela inclui uma declaração da linhagem da pessoa na casa de Israel e contém conselhos pessoais do Senhor. À medida que a pessoa estuda sua bênção patriarcal e segue os conselhos nela contidos, a bênção lhe proporciona orientação, consolo e proteção. Em um dado trecho de minha bênção, há o seguinte:

“(…) Se assim fizeres, terá a orientação do Senhor por meio do Espírito Santo. Se não endureceres o teu coração e buscar fazer a vontade do Senhor, poderá desfrutar deste privilégio que começará desde já com tua preparação para servir na vinha do Senhor. Se assim procederes caro irmão, esforçando-te para ser obediente aos mandamentos, o Senhor abrirá as portas para que realizes o que tu almejares.

Será abençoado com saúde, com vigor físico, com determinação e esta determinação o impulsionará para frente sempre avante, sempre avançando para atingir os teus objetivos. Mas lembre-se que primeiro terá que atingir os objetivos do Senhor. Se os atingires, atingirá os teus.”

Minha Bênção Patriarcal, 25 de Agosto de 2007.

Eu sempre mantive em minha mente que se fosse determinado o bastante, Ele abriria as portas para mim e assim O fez. Eu, porém, divaguei na minha parte do acordo. Uma das grandes bênçãos de minha crença religiosa, porém, é que a despeito do que tenhamos errado, há sempre tempo de mudança. E decidi que esse ano seria diferente, que eu faria por merecer as maiores bênçãos que Ele tem para mim e minha família. Estabeleci metas sólidas e estou me esforçando para cumpri-las. Dia após dia, Little Victories Everyday.

Desde bem antes de retomar esse projeto de manter um relato fiel de minha jornada pessoal, há cerca de dois meses, tenho me perguntado como eu poderia novamente ser como outrora, como eu poderia transformar em ouro tudo o que toco. Hoje, enquanto eu cozinhava e ouvia um discurso, acho que encontrei a reposta:

“É isto o que você vai fazer. Vai voltar para casa e ser assim. Vai ser tão bom que quase vai brilhar na escuridão. A disciplina e os sacrifícios que você fez na missão o tornaram um magnífico filho de Deus. Continue fazendo em casa tudo o que funcionou tão vigorosamente bem para você aqui. Você aprendeu como orar, para Quem orar e aprendeu a linguagem da oração. Estudou as palavras Dele e passou a amar o Salvador ao procurar ser como Ele é. Você amou o Pai Celestial como Jesus O amou, serviu às pessoas como Ele serviu e viveu os mandamentos como Ele os viveu — e, quando não o fez, você se arrependeu. Seu discipulado não é apenas um lema escrito numa camiseta — seu discipulado se tornou parte de uma vida vivida com o propósito de ajudar outras pessoas. Então vá para casa e faça isso. Seja assim. Leve consigo esse ímpeto espiritual pelo restante de sua vida”.

Discipulado duradouro“, Steven J. Lund, Conferência Geral, Outubro 2022

Sobre a pergunta que intitulou este post, preciso de religião? Sei que ok, muito do que tenho aprendido numa perspectiva comportamental eu poderia tê-lo feito em outros lugares. De fato. Fato é, também, que a religião que frequento me incentiva a ser a minha melhor versão todos os dias, dia após dia.

Eu não acho que Deus precisa de mim. Eu, porém, certamente preciso Dele. E minha religião me ensina e ajuda a como posso ter um relacionamento próximo com meu Criador.

Por Qaiq Alves

Pai, marido, empreendedor e curioso. Nessa ordem. Sou apaixonado por comunicação, pessoas e o difícil, porém valioso processo de tornarmos melhores versões de nós mesmos. Sem romantizar, compartilho minha jornada em busca de encontrar minha própria melhor versão.

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